Thursday, July 18, 2013

Como sabotar uma reunião de trabalho?




(versão para o setor público)


    Quando uma reunião se prolonga além do razoável, e a objetividade parece ter sido perdida de modo irrecuperável, pode não restar outra alternativa. Seguem, então, algumas dicas (se não para a impossível missão de encerrá-la, pelo menos para divertir-se com ela).


    1) Levante uma questão polêmica sobre um tema desimportante e alheio ao objeto da reunião.
    Exemplo: "Essa é uma questão ideológica. Será que é papel do Estado intervir nisso?"


    2) Se alguém reclamar, nunca recue. Defenda a importância do assunto. Diga que ele é fundamental e que não é possível prosseguir sem um consenso. Aplique um neologismo. Pega bem.
    "Sem consensar previamente esses conceitos nunca chegaremos a uma proposta final."


    3) Faça reclamações genéricas sobre problemas insolúveis.
    "O brasileiro é assim, isso é questão de educação. É preciso mudar a cultura do povo."


    4) Abuse das referências ao passado. Cite nomes que ninguém conhece, mas já ouviu falar. De preferência, falecidos, que não podem te desmentir.
    "No tempo do Covas era diferente..."


    5) Este item vem a reboque do anterior. Se você souber de cor um histórico razoável de Departamentos extintos, Secretarias fundidas, ex-secretários e boatos de procedência duvidosa... É a hora de usá-lo.
    "Quando o Fulano era Secretário, ele fundiu a PQP com a TNT e entregou pro Beltrano de porteira fechada. Mas aí mudou o governador e separou tudo de novo."


    6) Quando um ponto parecer exaurido e a discussão terminada, questione-o em suas premissas mais básicas. Evite detalhes, neste caso.
    "Espera um pouco. Estamos assumindo que haverá colaboração dos parceiros, o que não é verdade. Precisamos recomeçar do zero!"


    7) A reunião, enfim, terminou. Antes de ir embora, aproveite para vingar-se com uma ressalva que desanime o pessoal.
    "Agora precisa ver se vão concordar lá em cima. A gente faz a nossa parte, mas sem apoio político nada vai pra frente."




Wednesday, July 17, 2013

Segunda Mão - Maurício Romiti





                                              
                                     - - - - - - Texto enviado por Maurício Romiti - - - - - - 



    Esta é meio gênios do marketing, meio gênios do mal; bem no estilo daquela estorinha do cara que aumentou o buraco do tubo da pasta de dente pra fazer vender mais - mal sabia ele que era só diminuir o tamanho do tubo sem reduzir o preço.
    Enfim, vamos ao que interessa. Faz pouco tempo as redes de supermercados vieram com um papo de não distribuir mais sacolas plásticas para ajudar o meio-ambiente, uso consciente, blá blá blá. Sinceramente, todo mundo sabia que era pra reduzir custos e ponto.
    A reação da freguesia, claro, não foi das melhores e, no final das contas, voltaram com as benditas sacolinhas de plástico.
    E agora vem o pulo do gato: ainda no ímpeto de reduzir o custo com as tais sacolinhas, encontraram uma forma de diminuir a demanda. "Vamos inverter a cadeia!" disse o diretor de engenharia. O marqueteiro não entendeu nada e achou que ele queria prender alguém.
    "Ora, se as pessoas gostam tanto de levar as sacolinhas pra casa, não deve ser só pra chegar lá e ter o trabalho de jogá-las no lixo..." prosseguiu ele. "Mete uns furinhos no fundilho dela!"
    E lá se foi a maior funcionalidade da sacolinha plástica. Agora, colega, você vai ter que comprar sacos de lixo de verdade. Ou lavar constantemente sua lixeira. Genial...






Monday, July 15, 2013

Segunda Mão - Faça você mesmo





- - - - - - Texto enviado por Diogo Oliveira Santos - - - - - - 



O tanque estava entupido. Imaginei que seria um serviço fácil desrosquear o copo do sifão, tirar a sujeira e colocá-lo de volta. Mas não foi. Primeiro, foi necessário afastar a máquina de lavar e me sentar no chão frio e úmido, numa noite em que a temperatura em São Paulo era de 14 graus. Em meio à sujeira típica desses ambientes da residência, removi a parte de baixo do sifão para descobrir que o entupimento se devia a uma enorme bola de cabelos, fios de roupas e materiais gordurosos misturados. Retirei a bolota e joguei no lixo. Pronto, foi moleza. Mas não foi. Coloquei de volta o copo no lugar, abri a torneira para testar e, obviamente, vazou. Percebi que o anel de borracha que veda o bocal do copo no sifão era vagabundo, mas eu não tinha outro pra colocar no lugar. Peguei então um pouco de massa de calafetar (sabe Durepóxi? Igual, exceto pelo fato de que não endurece nunca) e botei na conexão. Demandou um pouco de força para rosquear, e com isso o cano do esgoto que entra na parede se moveu alguns milímetros. Vazou imediatamente, e dessa vez muito. Não dava para salvar. Pedi à esposa que comprasse um sifão novo, de plástico, e no dia seguinte estava lá de volta. Muito frio de novo, dessa vez com o agravante da água que havia vazado toda espalhada pelo chão. Em verificação inicial, o sistema me pareceu todo mole. Seria fácil retirar o velho sifão de metal. Não foi. O cano do esgoto apodreceu e não queria sair do seu alojamento na parede. Peguei um alicate e comecei a retirá-lo aos pedaços. Imediatamente me veio uma preocupação: eu ali, mexendo no esgoto, retirando pedaços de metal, poderia machucar minha mão e correr o risco de uma infecção. Mas isso não ocorreria, justamente pelo fato de eu estar consciente e tomando cuidado. Dois segundos depois, o alicate escapou e um pedaço de metal arranhou minha mão esquerda, bem na junta do dedo indicador com o resto da mão, saindo um pouco de sangue. Continuei o serviço, como macho imune a bactérias, e terminei a retirada dos destroços do cano velho. Peguei aquele sifão plástico novinho, cheiroso, furei com os dentes a bisnaguinha de lubrificante que acompanhava a embalagem, passei com os dedos na reta final do cano, enfiei na parede, e entrou fácil. Fiquei feliz. Bastava, agora, rosquear a parte gordinha do sifão debaixo tanque. Mas não deu. O espaço entre a coluna do tanque e a parede era exíguo, e a barriga do sifão tentava ocupar o mesmo lugar do cano que entra na parede. Eu, molhado de esgoto, com frio e a mão sangrando, por pouco não desisti. Mas, como homem, levantei, troquei de roupa e me preparei em segundos para ir à Leroy Merlin comprar um cano menor, que coubesse ali. Peguei a carteira e o celular e passei na área de serviço para dar uma última olhada na bagunça, quando veio o estalo. Não era necessário instalar a barriga do sifão! Bastava o cano flexível, que com uma pequena curva para baixo faria com sucesso o papel de vedar a saída de vapores fétidos e insetos nocivos pelo ralo do tanque. Voltei ao quarto, tirei o tênis e as meias, coloquei a bermuda úmida de volta e em 5 minutos encerrei o serviço. Aproveitei o ensejo para passar um pano e limpar toda a parte de trás do tanque, que se Deus quiser vai ficar mais 10 anos sem ser acessada. O serviço ficou bom e minha mão nem infeccionou. Duvido que um funcionário da Porto Seguro fosse tão eficiente.








Tuesday, July 02, 2013

A máquina do Tempo




    Recentemente, mudei de prédio - e, coincidentemente, de andar. Do 4º para o 13º.
Isso quer dizer que estou viajando 225% a mais de elevador.

    Ao mesmo tempo, tem chovido muito. Em época de chuvas, o assunto "clima" costuma ser debatido 80% além do habitual. Ocorre que o famigerado tópico parece descrever um incremento subsequente de pelo menos 300% quando no interior de elevadores.

    Juntando um e outro e fato, significa que nas últimas semanas estou suportando uma carga 6,75 vezes além do recomendável de "Chuvinha chata, não?" e "Deu uma esfriada, heim?"

    Até aprendi a checar a previsão do tempo antes de sair de casa. Sabe como é... É preciso ter assunto.




Thursday, June 13, 2013

130%




    A fim de satisfazer uma curiosidade pessoal e pedagógica, resolvi empreender uma exaustiva pesquisa de campo a respeito da influência do meio e da genética na formação da personalidade de uma criança. O levantamento incluiu consultas a neuropediatras, curiosos e mães de gêmeos - entre outros estratos da sociedade civil. Apresento, aqui, os resultados preliminares do paper.
    De acordo com a corrente dominante, e em consonância com os dados empíricos coletados, ambiente e genética dividem meio a meio a responsabilidade - o que me pareceu um resultado um tanto conciliatório.
    Notei, porém, ao final dos trabalhos, que eu havia desconsiderado a variável astrológica. Os signos. Optei, portanto (e amparado nos rigores do método científico), por adicioná-la a posteriori. Na razão arbitrária de 30%. Espero não ter me esquecido de quaisquer outros componentes: novas alterações poderiam comprometer sensivelmente a validade estatística do estudo.

    Em breve, estudos estatísticos sobre reuniões de trabalho.



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Thursday, June 06, 2013

No Aeroporto




 
    Confiscaram-me, em Guarulhos, o desodorante. O frasco estava na mala de mão, 50ml a mais do que o permitido. Aparentemente é o bastante para sequestrar um avião, ou mesmo botá-lo abaixo.
    O curioso foi que o operador da máquina de raio X ficou tão satisfeito em achar o desodorante que deixou passar o canivete - que, aliás, nem era assim tão pequeno. Embarquei, desse modo, armado para Paris.
    É claro que eu não sabia que levava um canivete na mochila - do contrário o teria deixado em casa. Quem me avisou, já na volta, foi um agente do aeroporto Charles de Gaulle. Aliás, gostou tanto do canivete que pegou pra ele.
   Aparentemente, o raio X francês funciona melhor do que o brasileiro. Mas, justiça seja feita, depois que tiraram o desodorante ficou fácil...




Tuesday, June 04, 2013

Câmbio, desligo!





Casa de câmbio, ao telefone.

- Bom dia, em que posso estar ajudando?
- Eu tenho uma dúvida, acho que você pode me ajudar.
- O senhor tem cadastro?
- Tenho.
- Qual é o número do seu CPF?

( Fico imaginando por que alguém precisaria do meu cadastro para responder uma pergunta simples e genérica. E no tempo que aquilo levaria...)

- Olha, precisa mesmo? Estou com pressa. Só quero saber se posso comprar moeda pagando no cartão.
- Até pode... - ela responde, contrariada. - ... Mas pagando no cartão o senhor perde o direito ao desconto.
- E de quanto é o desconto?
- Não tem desconto.
- !?
- O senhor gostaria de estar adquirindo um cartão de viagem ao invés do dinheiro? É muito mais prático.
- Interessante. Como funciona?

(Ela gasta longos minutos explicando como aquilo é um ótimo negócio. Eu faço que escuto.)

- O senhor tem interesse?! - parece entusiasmada.

- Não.

Pelo menos eu também gastei o tempo dela. Quites.



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Thursday, May 16, 2013

A Exterminadora de clientes

Bem passado ou ao ponto?



  Ontem, na fila de um Subway qualquer. Uma freguesa à minha frente reclama. "Mas não tem cebola hoje de novo?!".

    A atendente dá de ombros. "Nem pepino..." - responde, com um ar de "É a vida, acostume-se."

    Sanduíche montado, a funcionária pede a um outro colega para que leve o lanche ao forno. "Tenho medo de queimar a minha mão", justifica. "Você acha que vão me devolver outra se eu queimar? Vão me dar dinheiro, mas não vão me dar a mão de volta. Ainda mais com essa luva" - e sacode a luva de plástico. "Vai colar tudo!"

    E, enquanto o forno abria, fiquei pensando se o outro sujeito teria uma mão biônica que justificasse o argumento.




Tuesday, April 30, 2013

Instruções para a compra do livro - SKOOB





Olá pessoal,

Depois de um longo período sendo disponibilizado apenas como e-book, agora o meu livro "De Volta à Cidade do Vampiro" foi lançado fisicamente pela Editora Giostri.

Quem quiser comprar direto na Saraiva pode clicar neste link.

Mais informações na fanpage do livro no Facebook, que você acessa clicando aqui.


Aproveite e confira abaixo o vídeo do músico Lord Vinheteiro recomendando o livro e tocando 6 clássicos do suspense no piano.



Thursday, April 18, 2013

De Volta à Cidade do Vampiro




    Serrópolis. Um recluso e misterioso morador é acolhido com reservas pelos habitantes da hospitaleira cidade serrana engolida pelo gelo. Furtiva, a presença do estranho transforma todo e qualquer aspecto do pacato cotidiano serropolense. Homicídios, intrigas, heranças, disputas eleitorais. Uma família moribunda e decadente à beira da extinção. Nada escapa à influência de Ludovico. Uma questão, porém, persiste. Quem poderá saber dos seus verdadeiros motivos e intenções?



Tuesday, April 16, 2013

No caixa do cinema





    Escolher o filme; o assento. Pagar por eles. Parece simples, mas o processo demora 40 minutos em média. Por cliente.

    Mais do que o trânsito ou imprevistos de última hora, ultimamente o que mais te atrasa em uma sessão é o tempo gasto pelos que estão à sua frente na fila.
 
    Sim, porque há aqueles que deixam para escolher o filme justamente quando chegam ao guichê . "Esse é bom?" "Já começou?" "Mas não é dublado, é?"
 
    Os que escolhem os melhores lugares como quem vai comprar um apartamento. "Aqui a acústica não é boa". "Ih, já tem dois assentos vendidos dentro de um raio de três cadeiras." "O 3D não pega nessa fileira." "Aqui não bate sol."
 
    Sem contar os azarados: o cartão não passou, o sistema caiu, o operador está sem troco...  

    Assistir a um filme no horário planejado nunca foi tão difícil...


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Friday, April 12, 2013

To do




    Quando a sua lista de "a fazer" estiver muito comprida e/ou estagnada... Passe ela a limpo em outro papel. Dá uma sensação reconfortante de que você não está mais atrasado.


Tuesday, April 09, 2013

Dos comentários na internet


Anota aí !


   O errado sou eu, imagino. Matéria lida e compreendida, por que diabos eu vou ler os comentários dos internautas? Acontece que virou um vício. Não consigo mais ler nada sem dar uma espiada nas pérolas que aparecem quando cai a barra de rolagem.

   Hoje, no Terra, por exemplo, fiquei sabendo que o Ministro da Defesa pretende comprar 36 caças para a FAB.

   E mais abaixo:

"ESSE AMORIN NÃO ENTENDE NADA DE DEFESA PORQUE NÃO COMPRA O HARRIER DA MARINHA BRITÂNICO OU O F-32 QUE AMBOS VOA NA VERTICAL JÁ QUE O BRASIL É UM PAIS DE MATAS "

   Faz todo sentido. Um país com matas precisa de aviões que decolem na vertical.
  Bom, seja como for, pelo menos o cidadão se ateve ao tema - o que é algo raríssimo. Normalmente, qualquer notícia (não importa o editorial) descamba para críticas ao PT ou provocações futebolísticas. Ambos, se a matéria for sobre o Itaquerão.

   E as mensagens obedecem um padrão: 110% contêm erros de português. Coisa pesada... Não me refiro a colocações pronominais ou omissões de crase. Parece que todo um novo idioma vem sendo forjado nessas páginas. Um idioma em que "s", "ss", "z" e "ç" são elementos intercambiáveis, para emprego a gosto.

   Alguns erros, aliás, vem se repetindo tanto que já estou pensando em adotá-los também. Não quero ficar para trás. São coisas como "geito", "invensão", "fas" (verbo fazer), "ancioso"...Sem dúvida, porém, o meu preferido é o "mais" com valor de "mas". Acho sensacional. E a gente vê pessoas de família usando, o que deixa a coisa ainda mais (?) engraçada.

   Não sei a quem atribuir essa situação calamitosa, mas deve ser culpa do PT. Foi o que disse um outro comentarista da matéria do caça, e ele deve ter razão:

"PRA QUE ? PRA O PT ROUBAR MAIS ? NOS NAO TEMOS NEM MAIS PILOTOS QUALIFICADOS...TODOS SAEM PARA INICIATIVA PRIVADA...ONDE JA SE VIU UM PILOTO DE JATOS GANHAR MENOS QUE UM 'PILOTO' DE ELEVEDOR DO SENADO DE BRASILIA....SO NO PAIS DO PT.... "




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Thursday, March 14, 2013

Habemus Papam





    A/C Francisco I



    Finalmente um xará no Vaticano!

    Aproveito o ensejo para agradecê-lo pela homenagem e felicitá-lo pela escolha. Como o senhor, também recebi alguns parabéns ao longo do dia (em menor número). Não que eles fizessem muito sentido para mim, afinal eu não participo do Conclave. Não obstante, desfrutei a experiência de me sentir um pouco Papa por um dia.

    Em retribuição, despachei para o Vaticano a minha lata de Coca Zero "Quanto mais CHICO melhor."

    É a minha única, fiquei sem - e, portanto, aguardo uma graça em troca.

    Espero que Vossa Santidade não se ofenda com a intimidade do apelido. Experiência própria, não tenho dúvidas de que em breve os cardeais mais chegados o chamarão de "Chico", ou "Chicão" nos churrascos de domingo e nas quermesses da Igreja. É um apelido que vem com o nome. Além disso, não fabricaram nenhuma escrito "Francisco" (nem o farão, já que estão na fase dos nomes de lugares).


    Grato,
    Francisco




    PS: Se eu achar uma "Quanto mais VATICANO melhor", enviarei em seguida.



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Tuesday, February 26, 2013

Da Morte




   Quero morrer cedo. Aos 40, ou 50. Não sei se é para não dar trabalho aos outros ou, justamente o contrário, se é uma questão egoística. Partir no auge, passando ao largo dos problemas da velhice.
    Também quero morrer dormindo. Gostaria que a minha passagem, ao contrário do que eu desejo para a minha vida e legado, fosse imperceptível. Que quando perguntassem "Ele morreu?" pairasse a dúvida. "Morreu nada. Mudou-se para Itanhaém." E acreditariam, porque, vá lá, é quase a mesma coisa.
   Apenas algo me atrai mais do que a morte precoce, incógnita e indolor. Que ela me esqueça. Afinal, convenhamos... O que nos permite ser razoável e compreensivo com a morte é a sua absoluta infalibilidade. Ou não?



Thursday, February 14, 2013

A Zona do Crepúsculo III




    The Mysterious Lancer


    De novo, o carro. Um ano com ele. O terceiro episódio do gênero.  
    Há 6 meses, eu entregava o veículo para a primeira revisão. Fazia frio, e pairava sobre Sorocaba uma densa névoa. A pedido do atendente, recolhi os pertences do porta-luvas - entre eles, o GPS. Guardei o monitor e o suporte em um saco plástico preto e voltei para casa de carona.
    Quis o destino, porém, que por alguma razão a pequena alça de plástico desaparecesse naquele breve intervalo. Nunca mais a vi. E quanta falta fez. A vida pode ser dura quando você tem que segurar o monitor do GPS enquanto dirige. Às vezes é preciso passar a marcha e segurar a tela ao mesmo tempo. Não dá certo.
    Procurei por todo canto: no carro, no apartamento, na casa dos meus pais. Estendi as buscas até os lugares mais insólitos. Sem sucesso.
    Fevereiro. É noite. Os cães uivam sem motivo aparente. Fome? Não sei. Às vésperas da segunda revisão, o episódio me vem à mente enquanto embarco um par de camisas no banco traseiro. Como seria bom ter de volta o suporte do GPS... Prestes a fechar a porta, o imponderável ataca novamente. Bem ali, aconchegado no banco, o suporte brilha às claras - justo na hora em que eu pensava nele!
    Impossível que ele estivesse ali o tempo todo. Recuso-me a acreditar. Inúmeras vezes - e por diversas razões - eu vasculhara o veículo de cima a baixo.
    Ok, não deixa de ser possível que ele tivesse passado despercebido, mas prefiro ser realista... Parece muito mais plausível botar na conta no portal interdimensional que por duas vezes engoliu o meu celular.
    Tenso...
 

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Friday, February 08, 2013

Até Dinossauro




    "Aqui tem de tudo. Até dinossauro" - da vendedora da loja de guloseimas aqui do bairro, para um cliente ao telefone.
    Dei uma olhada em volta: bolachas, chocolates, balas, sorvetes, refrigerantes, drogas, armas, salgadinhos em geral.
    Nenhum dinossauro.
 
    Complicado ouvir conversa pela metade...


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Wednesday, February 06, 2013

SP Underground IV - Mão dupla




    Quem nunca, andando na rua, não deu com um pedestre aproximando-se velozmente no sentido contrário, em rota de colisão? Em 90% das vezes, você ou ele indicam sutilmente que vão mudar de curso e cada um segue o seu rumo, sem atrasos. 90%... Porque existem aqueles casos mais raros quando ambos resolvem desviar para o mesmo lado ao mesmo tempo, e aí vira algo parecido com aquela brincadeira infantil de pega-pega . Um faz que vai pra um lado, o outro faz que vai pro outro. E os dois param, xingando mentalmente o outro de retardado. A coisa toda não costuma demorar mais do que alguns segundos. 
    Hoje no metrô acredito ter presenciado o duelo mais longo do gênero que se tem notícia. Um senhor japonês com cara de chinês, quase idoso, saía solitário do vagão. Um rapaz apressado queria entrar. O resto você pode imaginar. Faz que vem pra cá, faz que vai pra lá. Um pedala, o outro ginga... Não chegaram ao choque (uma pena) - mas quase a porta fecha antes de resolvida a contenda. Tem gente que devia andar dando seta. 



Monday, January 28, 2013

Linhas Cruzadas




    Cuidado, leitor.
    Certas situações aparentemente inofensivas podem funcionar como verdadeiras armadilhas sociais. Ocasiões em que não há convenções sobre como proceder - nem é tão simples aplicar o bom senso. Uma espécie de limbo onde qualquer atitude parecerá errada.
    Você está dirigindo, rádio ligado, quando toca o telefone do passageiro. O que fazer? Ignorar a ligação e, desrespeitosamente, manter o volume do rádio nas alturas? Ou abaixar drasticamente e dar a entender que vai ficar bisbilhotando a conversa alheia?
    Difícil. Either way you lose.


* * * * * 


MPN IV



    Da redação

    Sem surpresas. Terminou em pizza a quarta edição do Marilena Poker Nights, a franquia de pôquer que mais cresce no Brasil. O torneio marcou o fim da Era Pimenta e o início da Era Scattolin - primeiro jogador a conquistar o bicampeonato no evento. "Fiz o meu melhor, lutei o quanto pude. É muito frustrante" declarou a vice-campeã. "Todos jogaram muito bem, e o nível desta edição esteve realmente alto. Em alguns momentos precisei jogar a 70% da minha capacidade para manter a liderança" afirmou o vencedor. "Eu sei que houve uma controvérsia a respeito do torneio anterior. Acho até que fui prejudicado. Desta vez, porém, não houve dúvidas", concluiu.
    O MPN V ainda não tem data definida, mas a organização promete novidades. "Em breve definiremos a data e o local. O que posso adiantar é que o cacife será aumentado, e seremos mais rigorosos com a política do traje esporte fino" - finalizou Scattolin.




Thursday, January 24, 2013

Down with the nerds!





    O que é um nerd, afinal?
    Pergunto porque eles parecem estar na moda - e isso faz alguns anos. Talvez cada um faça a sua própria ideia do que o termo significa, mas existe um senso comum bem definido.
    Experimente entrar em um site nerd, por exemplo. Qualquer um deles, só por curiosidade.
    Você vai ver que é tudo cultura pop: filmes, séries, livros de fantasia e pitadas de tecnologia rasteira (videogames, celulares, tablets).
    Nada ali é sério.
    Posso estar errado, mas quando tomei contato com o termo pela primeira vez a ideia era outra. Tinha mais a ver com as notas na escola – o que dava uma certa selecionada no grupo.
    Agora virou várzea. Basta gostar de entretenimento blockbluster e aplicativos para smartphones.
    É a micheltelonização do nerdismo.




Wednesday, January 16, 2013

NIpônicas II




    “Como um povo tão sem graça podia ser tão complexo?”
   O primeiro post sobre a viagem ao Japão terminou com uma pergunta e uma promessa de resposta - a qual ficarei devendo. Mas a culpa não é minha: é do tal do relativismo. São culturas tão distintas que é impossível fazer juízo de valor ou de comparação. O que dá para fazer são observações. Um olhar brasileiro, se é que isso existe.
   Confesso que fui até o Japão com essa ambição, a de avaliá-los. E, confesso, fui a campo com a hipótese pronta: talvez o estranhamento que o Japão nos causa fosse meramente linguístico – e isso era algo que eu estava disposto a provar.
    Explico. Não dá pra entender nada do que eles falam ou escrevem, o que por si só causa um impacto considerável. Vou além: a pronúncia soa estranho. A feminina é cadenciada e infantilizada, enquanto a masculina remete a broncas ou discussões. Imaginei que se abstraísse essas barreiras superficiais e fingisse entendê-los, a essência que restaria seria algo, senão próximo, ao menos familiar. Afinal, são seres humanos, não poderiam ser tão diferentes.
    A hipótese da redução do caso à questão linguística, porém, caiu por terra logo nos primeiros dias, deixando-me órfão de explicações. Observando as conversas da nossa Guia com os locais, ficou claro que a comunicação entre eles obedecia uma lógica distinta. Informações simples demoravam para serem obtidas em diálogos que arrastavam-se inexplicavelmente. Seriam prolixos ou apenas raciocinavam em outros termos? Difícil saber, mas certamente havia uma dificuldade para fazer-se entender. Americanos não gastariam mais do que duas ou três frases curtas, quando muito. 
   Descartada a simplificação, era preciso começar de novo, sob outra abordagem - mais complexa e desafiadora. O jeito era colher informações aleatoriamente, e torcer para que elas se aglutinassem em torno de algum padrão inteligível de comportamento.
    Escolhi deter-me, por um momento, sobre o aspecto não-verbal. O silêncio entre eles dizia muito sobre discrição e o respeito que eles parecem valorizar. É raro surpreender japoneses conversando em trânsito. Elevadores, ônibus, metrô. Todos quietos. Próximo a um templo budista, assisti a parte de uma aula de arco-e-flecha. Paciência e concentração ritualísticas. Entre uma flecha e outra, longos minutos de instruções e contemplação. Não pude deixar de imaginar que, fosse a aula no Brasil, os alunos teriam disparado dezenas de flechas antes mesmo da chegada do professor.
    Essas evidências, entre tantas outras, me eram úteis, mas não ajudavam a responder sobre as aparentes contradições da sociedade japonesa. O que eu via era linear, e corroborava apenas o aspecto da disciplina e da passividade orientais. A face sem graça. Onde estava o lado criativo do japonês? O lado lúdico Godzilla-Pokemón? O lado que consome programas e propagandas bizarras na televisão.
    Concluí, precariamente, que não havia inconsistência alguma. Pelo contrário: existia uma conexão indissociável entre elas. O que me levou a essa conclusão eu deixo para uma próxima oportunidade.



Sunday, January 13, 2013

Excel Facts





    “Isso aí depois sai pronto no Excel!”

    Taí uma frase que termina com qualquer reunião/discussão que envolva números passíveis de serem inseridos em uma planilha eletrônica. É uma espécie de frase-trunfo: quando em dúvida, basta apelar para as habilidades míticas do Excel. Tiro e queda.

    O que acontece é que as pessoas têm uma ideia de onipotência quanto às possibilidades do programa. Embora 95% dos usuários utilizem apenas as 4 operações fundamentais, todo mundo já ouviu falar que ele serve para tudo: Matemática Financeira, Estatística, Banco de Dados, Macros (que diabo é isso?!)... Assim, duvidar do Excel é como assinar um atestado de ignorância, mesmo quando você tem razão. “Blasfêmia, você não sabe mexer em Excel!”, alguém dirá. “Vi um indiano fazendo isso na versão para celular”, dirá outro. “Soube de um russo que dividiu por zero em uma célula!”. E por aí vai. Cheguei à conclusão de que, se o cinema fosse mais realista, Neo enxergaria a Matrix em um arquivo .xls ao invés daqueles números verdes caindo em cascata.

    É por isso que, quando o assunto surgir, o mais prudente a fazer é concordar. Afinal, o ser humano só consegue utilizar 10% da capacidade do seu cérebro. E #NULO! % da capacidade do Excel.


PS: Essa já é a minha segunda dica para uso exclusivo em reuniões enfadonhas. A primeira foi o "Salva na nuvem", em algum post perdido por aí.




Wednesday, January 09, 2013

Nipônicas I




    O Japão é um lugar exótico. Aos olhos latino-ocidentais, ao menos.
    Quando digo que fui ao Japão, a primeira - e indignada - reação das pessoas é "Pra ver o Corinthians!?". E a segunda quer saber da primeira impressão. "Como é por lá? Deve ser muito diferente."
    Pois bem. A primeira impressão, para ser preciso, é “Como tem japonês nesse lugar!” Salta aos olhos. Ato contínuo, surge a sensação de ter virado analfabeto. Não se entende nada do que está escrito, ou do que está sendo dito. Parece uma constatação óbvia. Boba. Mas as impressões seguintes, todas elas, decorrem das duas primeiras.
    Particularmente, a curiosidade que eu tinha sobre os japoneses era descobrir se eles eram loucos mesmo ou se aquilo era preconceito meu. Qual a deles, afinal? Porque o que nos chega de lá é algo contraditório. Um povo disciplinado e trabalhador, mas que é dado a esquisitices incompreensíveis mesmo para um brasileiro. Um comportamento misterioso, enfim.  
    O que eu esperava era decifrar um pouco daquele mistério. Pelo menos até onde fosse possível em apenas 10 dias, dois deles de Corinthians.
    Como um povo tão sem graça podia ser tão complexo?