Friday, August 31, 2012

Surfando no sucesso





     O que, afinal, faz um hit? Refrões simples, melodias pegajosas e repetição exaustiva?
     Talvez.
     Mas não deve ser assim tão fácil: o impoderável, aqui, joga pesado.
   
     No vídeo, uma música – antiga, é verdade – que não me sai da cabeça há mais de um ano. E agora não vai sair da sua.



Wednesday, August 29, 2012

A blogosfera em números




     Desde que comecei a divulgar este espaço, me vi obrigado a conhecer um pouco mais sobre o perigoso mundo da Blogosfera. Metódico, compilei os dados coletados no I Grande Relatório sobre Blogs, Sites e Afins – do qual extraio e apresento alguns números neste sumário executivo. Note que os dados ainda não foram consolidados, tampouco auditados. Será possível, portanto, que apresentem inconsistências.

     Às conclusões preliminares:

  • As duas maiores plataformas para quem deseja criar um blog são, pela ordem: 1º) Blogger ; 2º) Wordpress 3º) Tumblr.
  • Existem 14.850 widgets (espécie de aplicativo) disponíveis para customizar o seu blog. Colocar todos eles em uma mesma página é humanamente impossível. Apenas 70% dos blogueiros conseguem.
  • 11 a cada 10 blogs não produzem conteúdo original ou dão crédito para o autor do conteúdo. Copiei essa informação não lembro de onde.
  • 112% dos blogs de humor (mais da metade, portanto) recorre aos memes – desenhos, fotomontagens, etc. O restante cola vídeos do Youtube.
  • Um mesmo meme (aliteração proposital) ou fotomontagem é publicado, em média, por 133 blogs diferentes. Até chegar no Facebook.
  • Se você nunca acessou (nem sabe o que é) um “Agregador de Conteúdo”, parabéns! Trata-se do equivalente virtual a você admitir que assiste Superpop, Dr. Rey... Enfim, qualquer programa da RedeTv.
  • Existem diversos aplicativos que medem o tráfego do seu site, e você pode instalar quantos quiser. Nenhum deles bate – o que leva a crer que produzem dados tão confiáveis quanto as estatísticas deste post.

     Continuarei processando os dados no Excel. Havendo novidades, publicarei.



- - - - -  Participe do grupo no FB - - - - - 






Tuesday, August 28, 2012

Moto contínuo




Dirigindo no trânsito caótico das 18h, tento sem sucesso responder um email no celular. Natural: é fato notório que o fluxo de veículos torna-se instantaneamente ininterrupto quando se precisa desviar a atenção para qualquer outro objeto que não o volante.
Tentarei reproduzir o fenômeno artificialmente no futuro, como alternativa ao rodízio de veículos - mas desconfio que apenas a espontaneidade produza resultados positivos.
A conferir.


- - - - - Siga o grupo no FB - - - - -



Monday, August 27, 2012

Bond, Abin e os filmes indianos




     Passou na sexta uma reportagem muito boa do Nelson Motta no Jornal da Globo sobre os 50 anos do espião da rainha. O primeiro Bond que eu assisti no cinema foi GoldenEye, com Pierce Brosnan, em 1995. Antes dele, apenas Roger Moore - que eu alugava em um estabelecimento da época conhecido como “videolocadora”. Eu me lembro que eu não achava as cenas forçadas ou inverossímeis  – elas pareciam somente fantásticas.
     Corte, 14 anos mais tarde. Ano: 2009. A Abin havia publicado edital para o preenchimento de 160 vagas de Oficial de Inteligência. O governo brasileiro, talvez por conta da colonização portuguesa, é um dos poucos países no mundo que recruta os membros do serviço secreto por concurso público. Com o noticiário ocupado pela participação da agência na Operação Satiagraha, a Abin estava em evidência. Foram 66.491 inscritos. 415 por vaga.   
     Quando o resultado saiu, fiquei em 200 e alguma coisa. Fora do contingente inicial, é verdade - mas a expectativa era que com as eliminações nos exames físico, psicotécnico e médico a chamada pudesse chegar até a minha posição. Depois de aprovado nas provas físicas (corrida e natação) e no exame psicotécnico (testes de perfil e de raciocínio) havia chegado o momento do exame médico: cada candidato entregava à banca uma pilha de exames e passava por uma avaliação clínica. Moleza.
     Corte. Dia do exame médico, agendado para as 9h. Chego às 8h, sou chamado às 8h50. Examinador, impassível:
- Documento com foto?
Abro a carteira, vasculho os bolsos.  Corro até o carro. Nada!
- O senhor tem dez minutos para se identificar ou será eliminado.
- Eliminado?!!
- Do concurso.
- Menos mal...
     Com o auxílio de uma funcionária do local, registrei um boletim de ocorrência na internet e o apresentei ao examinador. Não adiantou: o carrasco argumentou que eram 9h15, e que pelo edital eu devia ter me identificado há 5 minutos. Não houve mandado de segurança que resolvesse. Mais tarde, achei a carteira de motorista esquecida no bolso da calça que eu usara no dia anterior, para o exame psicotécnico. Devia ter ido com a mesma roupa.

    No vídeo, alguns stunts de um filme indiano que fazem 007 parecer Drama.



- - - - -  Participe do grupo no FB - - - - -



Friday, August 24, 2012

Ao vivo



Quem já foi surpreendido aumentando o volume daquela música antiga (que você acha que só você ainda ouvia) tocando na FM vai saber do que estou falando. Escutar uma música no rádio ou ver um filme na TV (sinal aberto, de preferência) é diferente de ouvir ou assistir por conta. Outra vibe. Pode ser a música top nas paradas, ou a reprise pré-histórica de Rocky II no SBT. Um pouco a preguiça explica: às vezes é bom poupar o trabalho da escolha, e esse cômodo relaxamento aguça a percepção. Mas creio que tem mais a ver com a experiência conjunta. Saber, mesmo sem se dar conta, que milhares de pessoas compartilham aquele mesmo momento. O evento ganha aura coletiva, e o homem (individualismos à parte) é, antes de mais nada, um bicho social.

Thursday, August 23, 2012

Abas, janelas e a perda de continuidade





Difícil dar conta de vários programas funcionando ao mesmo tempo. Word, Excel, Safari, MS-DOS.... O cérebro humano só tem um núcleo. E a pior situação é quando, por engano ou maldade, o browser radicaliza e abre outra janela. A gente acaba entrando nos mesmos sites, abrindo as mesmas abas, fazendo as mesmas tarefas. E nunca acerta para onde voltar.

No vídeo, o Chapolin Colorado em um diálogo sensacional...


 - - - Participe do grupo no FB - - -

Wednesday, August 22, 2012

The Absent Shower Program




Resolvido - já era hora! - o intrigante problema hidráulico que inutilizou o meu chuveiro por dois longos meses. Seu Natanael, o zelador, a cada semana trazia uma explicação diferente para o fracasso do conserto. Leigo, fingi que entendi todas elas (é fácil: basta repetir o que foi dito e improvisar desenhos genéricos com as mãos). 
Durante a estiagem do bimestre, me vi obrigado a tomar banho no clube todos os dias. E, já que estava por lá, não custava fazer uma academia e/ou jogar algumas partidas de tênis. Resultado: perdi 4 quilos, melhorei o fôlego e subi de classe na Federação.
Fica a lição: nem sempre uma rotina saudável começa pela cozinha. Às vezes o problema está no banheiro.



- - - participe do grupo no FB - - -

Tuesday, August 21, 2012

Extra!





A foto é de hoje. Repare nas bancas: ao vivo, amplifica-se o impacto. Que só não é maior, diga-se, do que a surpreendente constatação de que não se trata da Revista UFO – mas, sim, de uma singela(?) publicação infantil.
E aí eu me pergunto: o que uma criança faz para merecer ganhar uma revista dessas? Só pode ser castigo.

PS: Para uma avaliação mais precisa da experiência do autor no tema, leia Dos medos infantis.


Monday, August 20, 2012

Novo layout



A gente muda. Faz o que pode.
Nem sempre dá certo.
Na imagem à esquerda, um exemplo de layout que não saiu como o esperado.

Thursday, August 16, 2012

Xing-ling Enterprises




Admito: não sou fã, mas às vezes frequento os Xing-lings da vida, onde a muamba corre solta. Na região da Paulista, onde trabalho, conheço dois. Você chega nesses estabelecimentos com a expectativa de entrar no Paraguai, mas, por algum lapso no espaço-tempo, acaba indo parar em solo chinês. Worm-holes existem.
Os promo-centers, stand-centers, ou seja lá qual for a denominação que se queira dar para os mini-shoppings orientais, gozam da fama de ter de tudo. As pessoas tem uma ideia de onipotência quando se referem à pirataria. “Aparelho de ressonância magnética? Lançou agora? Então você acha lá na 25 ”. “Enriquecimento de urânio a 20%? Já procurou na Pagé?“. Como foi que conseguiram essa reputação? Multinacionais torram milhões em propaganda por uma fração desse prestígio. Deve ter a ver com a Lei de Gerson e seu lugar cativo no subconsciente do brasileiro. Se é legal, não pode ser bom. E se tem malandragem no meio, só pode ser ótimo.
Existe uma etiqueta própria para se circular entre essas lojas separadas por divisórias plásticas onde ser atendido em português é luxo. Aprendi algumas regras:

1) Nunca brigue com um vendedor e resolva comprar em uma outra loja só para provoca-lo. A não ser que você pague “em dinero, né”. Porque existe uma chance bastante considerável da loja que você comprou pedir pra você passar o cartão de crédito na do cara que você brigou. E aí sim você será surpreendido. Ficará com cara de idiota, enquanto eles conversam em coreano na sua frente. Por que cada loja não tem a sua própria máquina?
2) Pechinche, sempre. Se você pagar o primeiro preço que eles pedem, também irão rir da sua cara quando você virar as costas, fazendo piada em coreano. Uma boa solução é fazer a primeira contraproposta lá embaixo, porque eles costumam fazer uma média. Exemplo: “Quanto custa a capa do celular?”. “$40.” “Pago $20.” “$20 não... Faço $30. Em dinero”.
3)Eles tem um medo desproporcional da taxa para pagamento em cartão. Jogue com isso. “$100?! Faz por $30 em dinero?”.
4) Não faça perguntas sobre garantia. Não é de bom tom e pode constranger o vendedor. Existe um acordo tácito nesses lugares: se você voltar no dia seguinte, e lembrarem da tua cara, eles trocam pra você.
5) Não caia na tentação de pedir o CPF na nota. Mais uma vez, vão rir de você e tirar sarro numa língua que você não entende.



Wednesday, August 15, 2012

O Carro do Capeta


O diabo veste Prada, mas anda de Chery.


Esperava mais. Talvez uma Ferrari, uma Ducati ou (aí sim!) um Lamborghini Diablo. Mas o tinhoso anda de Chery Cielo. Escolha curiosa.


Monday, August 13, 2012

Guia de Restaurantes - Volume II





Aproveitando o aumento recente no valor do “Complemento auxílio-alimentação”, segue a atualização do Guia de Restaurantes com os estabelecimentos que não foram contemplados na primeira edição.

BASSANO - Versão popular do Fasano, fica na movimentada Rua Pamplona. O buffet oferece bastante variedade, e o menu de carnes não deixa a desejar. O ponto alto, no entanto, é o pós-almoço: as rosquinhas-cortesia mergulhadas no doce de leite fazem a fama do Bassano e permitem trocadilhos os mais variados. Deguste a sobremesa em pé ou afundado no sofá-movediço dos fundos. Na saída, fica a menção honrosa à estrutura dos caixas – comparável apenas à de grandes redes varejistas.

KILOVE -Depois de uma experiência frustrada no ramo dos motéis, o Kilove descobriu sua verdadeira vocação servindo comida a quilo. Localizado em frente ao Blue Tree Towers, na Peixoto Gomide, oferece - de longe! - o buffet mais completo que o seu ticket pode pagar: opções diversas de frutas da época, pratos quentes, churrasco e sobremesas. Na saída, não deixe de pedir o CPF na nota – a atendente faz parte de uma iniciativa pioneira do programa anti-evasão fiscal do governo do Estado.

IRORI - Trata-se do melhor restaurante japonês da região na categoria value. O Irori consegue conjugar preços baixos com um legítimo ambiente oriental. Cuidado, porém: a bebida é cara e o serviço demorado – se quiser refrigerante, reserve por telefone. No centro do restaurante, o lago de carpas japonesas concede uma virtuosa amostra da excelência oriental na criação de peixes ornamentais. Quando em grupos maiores, evite a ala de mesas típicas: os assentos são de difícil acesso.

TERRANOVA - Descobrir o Terranova exige aventurar-se em uma audaciosa travessia, desbravando o lado oposto da Paulista. Recém-credenciado, o restaurante familiar está localizado na arborizada Alameda Rio Claro. O casarão antigo e a televisão da década de 60 transportam o cliente para uma acolhedora atmosfera interiorana.  A senhora que marca o peso tem 102 anos. O senhor do caixa, 112. Não se deixe intimidar pela baixa variedade: o Terranova aceita pedidos de grelhados no sistema semi-à-la-carte: o pedido é pesado e o valor adicionado à comanda. Gelatina incluída.

MARCOPOLLO - Incensado pela crítica, o espanhol Marco “Pollo” entrega o melhor da culinária mediterrânea, com um toque brasileiro. O Marcopollo acerta em tudo - menos no preço, um pouco salgado. Suco grátis até o meio-dia. Havendo a opção, peça o misterioso “tropical”.

BAR DO BIGODE - No coração da Alameda Santos, incrustado entre o moderno edifício do Citibank e o imponente prédio da Secretaria, o humilde Bar do Bigode é um estranho no ninho. A equipe do blog nunca teve coragem de almoçar no estabelecimento, mas recomenda o pão de queijo tunado (R$2,00) e o açaí na tigela (R$10,00).  Caso opte pelo açaí, traga a colher de casa: o Bigode tem o hábito de trazê-la batucando contra a mão.


( Link para o Volume I )


Saturday, August 11, 2012

O Dilema da Portaria




Passar por uma portaria produz um dilema social/moral/filosófico de suma importância: cumprimentar ou não o porteiro?
A educação pede (alguns dirão, exige) um "bom dia", um "boa tarde". Mas e se fosse você o porteiro? Gostaria de cumprimentar todo e qualquer desconhecido que passasse à sua frente? Porque são muitos ao longo do dia. Sempre ocupados. Sempre indo a algum lugar. E o porteiro lá, parado. Cumprimentando e observando. É como se apenas a ele não fosse permitido ir além daquele ponto. Ninguém o convida. Ele é só isso: um ponto de passagem - e é esse o recado implícito em cada saudação apressada.


PS: Sou só eu ou toda portaria tem um quê de caverna de Platão?


Friday, August 10, 2012

Comensalismo

Tubarão australiano carregando uma rêmora nas ribs


E, mais uma vez, o Applebee's do Shopping Eldorado tira proveito da extraordinária fila de espera do Outback.
Porque localização é tudo.



Wednesday, August 08, 2012

Thriller, delivery (parte final)



(Ler depois da parte 1)


Daquele momento em diante encontrei-me envolvido nos acontecimentos, que se desenrolavam com rapidez. Receio que se fosse possível exprimir em palavras o terror que tomara conta daquela sala quando da segunda aparição do vulto não encontraria no dicionário palavras adequadas, ou mesmo suficientes. Ainda que as houvesse, teriam que ser multiplicadas pelo número de pessoas na sala para transmitir com exatidão o clima exato naquele cômodo - pois refiro-me ao meu próprio horror e era dentre nós, como verão, a alma mais lúcida e ponderada. Aproximava-se da porta frontalmente a sombra, passo ante passo, sem pressa. Fitei a figura onde acreditava ficarem seus olhos, pois seu manto de trevas só nos oferecia seus contornos. Constituía um aspecto humanóide, sem dúvida, não fosse a cabeça desproporcionalmente grande em relação ao resto do corpo. Bastou que a notasse para que num movimento rápido com os braços retirasse a cabeça de cima dos ombros e a levasse, com um só gesto, junto ao quadril. A partir daqui já não posso saber ou especular das reações alheias, pois as minhas próprias recordo com dificuldade. Encará-lo nos olhos como intentava fazê-lo tornara-se obviamente mais difícil, pois para minha surpresa onde antes havia a cabeça grande surgira no lugar uma cabeça menor – esta, sim, fantasticamente humana. Virou-se de lado, deslocando-se lateralmente, deixando revelar uma protuberância robusta e quadrada nas costas que lhe conferia um aspecto ainda mais bizarro e monstruoso. Um temor mórbido percorreu-me a espinha quando desfez-se também daquele adendo, colocando-o cuidadosamente no chão. Com que intuito assumiria uma aparência tão próxima da nossa? Da minha...
Pareceu vasculhar a corcunda caída, levantando-se dali com dois discos finos empilhados numa das mãos espalmada. Não consegui atinar para a lógica naquelas ações aparentemente tão desconexas e misteriosas, mas executara-nas com aquela decisão autômata bastante diferente da resoluta, que requer empáfia e coragem mas é vacilante por natureza.
Tocou a campainha. Fui atendê-lo. Caminhei em direção à porta e encarei aquela máscara negra uma última vez antes de contemplar seu rosto por mim mesmo. Abri a porta, olhei-o nos olhos.
- Uma mussarela e uma calabresa?
- (...) Tem troco pra 50?
- Tenho sim.
- Viu? (...) Não pedimos refrigerante?


Tuesday, August 07, 2012

Vai jogar com quem?


Hamlet, em cosplay de Ken. 


Essa noite rolou uma jogatina de Street Fighter no Marilena. Oportunidade para, uma vez mais, emergir a questão filosófica que perturbou a minha geração: Quem vai jogar com Ken?



Sunday, August 05, 2012

Thriller, delivery




Era uma dessas noites frias de inverno. Os ventos uivavam desfazendo a neblina pesada que pairava no nível das casas enquanto as luzes da cidade ao fundo projetavam no pórtico imagens extraordinárias de plantas e galhos de árvore embrenhados na névoa, retorcidos pelo vento. Do interior da residência, apreciávamos a paisagem lúgubre através da porta principal de vidro. Conversávamos na sala, embalados por uma ou outra dose de álcool – mas decerto nenhum de nós havia se excedido a ponto de creditar-se o que ocorreria aos efeitos relaxantes da bebida.
O tema da discussão era a troca de histórias do desconhecido, de modo que talvez o que se sucedeu pudesse ser atribuído, isto sim, às nossas mentes sugestionadas pelas narrações fantasiosas que se seguiam – ou a um certo estado famélico, embora desconheça as implicações que um estômago vazio possa causar quanto à visão de alucinações. Os mais atentos – e impressionáveis – objetarão, neste ponto, contra meu julgamento antecipado do fenômeno, atribuindo-o desde já a um desvario. Suspeitarão haver motivos sobrenaturais naquilo que sequer foi narrado. Mas a história que se segue, e que lhes conto agora, não é sobrenatural - por não haver indícios que apontem neste sentido. Tampouco (acertaram os que discordaram) alucinação. O que presenciamos naquela noite fora, portanto, real. E irrefutável.
Como disse, narrávamos histórias do oculto. Sendo o nosso grupo razoavelmente heterogêneo, e como muitos de nós nos conhecíamos há pouco tempo, os relatos eram em sua maioria inéditos para quem os ouvia. Farei, aqui, uma ressalva que julgo importante: a escolha deste assunto um tanto sinistro fora meramente eventual, e surgira naturalmente. Não houve, creio, da parte de nenhum dos presentes a intenção deliberada de conduzir a conversa nos domínios do pânico e do terror.
Pois bem. Entre um e outro “causo” (e havia os mais escabrosos) fazia-se um silêncio respeitoso, que servia a dois propósitos, sucessivamente: num primeiro momento ruminava-se a história contada, que, se bem-sucedida (não me recordo de relatos insossos, pois eram quase todos materialmente bons, e os ruins calhavam serem propostos pelos mais eloqüentes) deixaria os ouvintes em um nível de tensão menor que o do final do conto, porém maior do que no seu princípio. Em seguida, puxava-se pela memória, ou pela imaginação (as narrativas mais verossímeis são, via de regra, inventadas) algum novo mito, mistério ou lenda urbana. Como estávamos engajados nessa atividade já há algum tempo, naturalmente o nível de ansiedade naquela sala era consideravelmente alto, a ponto de qualquer ruído estranho – por mais natural que fosse – provocar calafrios até entre os menos impressionáveis. Como quando, da cozinha, o refrigerador começou a trabalhar num desses silêncios intervalares a que me referia. Rimos juntos, inocentes, do medo injustificado. Àquela altura não podíamos desconfiar quão breve seria aquele momento de descontração, e com qual facilidade nossas expressões coradas de alívio seriam consumidas pela lividez da visão do mais puro horror.
Do pórtico, um vulto cruza com desenvoltura e rapidez toda a extensão da porta principal pela qual observávamos sombras e nuvens dançantes à contraluz. Os efeitos da iluminação sobre o vidro fosco e a velocidade com que se movia contribuíram para que tivéssemos nos deparado com um vulto na melhor acepção da palavra: aquele espectro indistinto trajava sombras! Naquele segundo ou dois da sua aparição acreditei estar privado dos sentidos, ou pelo menos deles duvidava em grande conta. Pensei ter sido sua única testemunha. Quisera eu estar de fato privado deles, ou que permanecessem entorpecidos um momento mais para não sentir o gosto amargo daquele grito agudo que se podia pegar com as mãos. Era certo que víramos, todos, a mesma cena.
Aaaaaaaaarrrrghhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!!!!



(Continua...)

.

Thursday, August 02, 2012

Na fila




    Este post, meio a contragosto, não deixa de ser uma continuação do anterior - se não temática, ao menos cronológica. Porque não me refiro, agora, ao fim do filme - mas (muito antes!) à fila do filme.
    Batman, novamente. Fui assistir na terça, fila quilométrica. Tinha em mãos três ingressos promocionais no último dia de validade. Sozinho, só pretendia usar um. Na minha frente, colegas de fila, um grupo de três: uma garota e dois rapazes na faixa dos 20 anos. Oportunidade para um rápido experimento behaviorista. Generoso, ofereceria os dois ingressos que sobraram e os observaria digladiando até a morte pela entrada franca.
    Gastei aqueles 20 minutos de espera imaginando as possibilidades. Talvez o mais provável fosse que, em um ato de cavalheirismo, oferecessem o bilhete à moça. Talvez ainda, sinal dos tempos, eles resolvessem ratear entre si o pagamento da terceira entrada. Qualquer outro arranjo me parecia injustificável, embora plenamente possível.
    Optei por oferecer os tíquetes apenas quando estivéssemos próximos ao guichê. Eles teriam que decidir por instinto. Maquiavélico, abordei o trio segurando os ingressos afastados um do outro. Naquele breve instante, não sei por que, eu me senti a maldade em pessoa. Expliquei a eles que era o último dia do ingresso e tal. Eles olharam meio desconfiados, mas um dos jovens estendeu a mão e coletou as entradas. Praticamente ao mesmo tempo - e para a minha surpresa -, a garota tirava do bolso uns 6 ou 7 ingressos promocionais. E o trio, em uma rápida reunião, começou a deliberar sobre a validade dos tíquetes, separando os mais novos para uso futuro. Nããããããããoo! Tudo aquilo para nada, desde o princípio eles sequer iam pagar pela entrada. Não me agradeceram com o devido entusiasmo nem contribuíram para os meus achados "científicos".
    Bom, pelo menos dessa vez sobrou lugar na sala e consegui assistir o filme.


.