Wednesday, January 16, 2013

NIpônicas II




    “Como um povo tão sem graça podia ser tão complexo?”
   O primeiro post sobre a viagem ao Japão terminou com uma pergunta e uma promessa de resposta - a qual ficarei devendo. Mas a culpa não é minha: é do tal do relativismo. São culturas tão distintas que é impossível fazer juízo de valor ou de comparação. O que dá para fazer são observações. Um olhar brasileiro, se é que isso existe.
   Confesso que fui até o Japão com essa ambição, a de avaliá-los. E, confesso, fui a campo com a hipótese pronta: talvez o estranhamento que o Japão nos causa fosse meramente linguístico – e isso era algo que eu estava disposto a provar.
    Explico. Não dá pra entender nada do que eles falam ou escrevem, o que por si só causa um impacto considerável. Vou além: a pronúncia soa estranho. A feminina é cadenciada e infantilizada, enquanto a masculina remete a broncas ou discussões. Imaginei que se abstraísse essas barreiras superficiais e fingisse entendê-los, a essência que restaria seria algo, senão próximo, ao menos familiar. Afinal, são seres humanos, não poderiam ser tão diferentes.
    A hipótese da redução do caso à questão linguística, porém, caiu por terra logo nos primeiros dias, deixando-me órfão de explicações. Observando as conversas da nossa Guia com os locais, ficou claro que a comunicação entre eles obedecia uma lógica distinta. Informações simples demoravam para serem obtidas em diálogos que arrastavam-se inexplicavelmente. Seriam prolixos ou apenas raciocinavam em outros termos? Difícil saber, mas certamente havia uma dificuldade para fazer-se entender. Americanos não gastariam mais do que duas ou três frases curtas, quando muito. 
   Descartada a simplificação, era preciso começar de novo, sob outra abordagem - mais complexa e desafiadora. O jeito era colher informações aleatoriamente, e torcer para que elas se aglutinassem em torno de algum padrão inteligível de comportamento.
    Escolhi deter-me, por um momento, sobre o aspecto não-verbal. O silêncio entre eles dizia muito sobre discrição e o respeito que eles parecem valorizar. É raro surpreender japoneses conversando em trânsito. Elevadores, ônibus, metrô. Todos quietos. Próximo a um templo budista, assisti a parte de uma aula de arco-e-flecha. Paciência e concentração ritualísticas. Entre uma flecha e outra, longos minutos de instruções e contemplação. Não pude deixar de imaginar que, fosse a aula no Brasil, os alunos teriam disparado dezenas de flechas antes mesmo da chegada do professor.
    Essas evidências, entre tantas outras, me eram úteis, mas não ajudavam a responder sobre as aparentes contradições da sociedade japonesa. O que eu via era linear, e corroborava apenas o aspecto da disciplina e da passividade orientais. A face sem graça. Onde estava o lado criativo do japonês? O lado lúdico Godzilla-Pokemón? O lado que consome programas e propagandas bizarras na televisão.
    Concluí, precariamente, que não havia inconsistência alguma. Pelo contrário: existia uma conexão indissociável entre elas. O que me levou a essa conclusão eu deixo para uma próxima oportunidade.



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