Quando alguém recomenda algum livro, filme ou música, mergulha inadvertidamente no caldeirão pulsante da subjetividade alheia, sem muita chance de sair ileso. E quanto mais ousada ou original a dica, maior o risco do caldo entornar. É por isso que deixar-se influenciar por uma crítica é como andar no escuro: a gente nunca sabe o que vem pela frente.
Desse confronto entre a opinião de um e a expectativa do outro costuma aflorar o sentimento de fracasso do crítico frustrado. Ninguém gostou da sua indicação e – pior -, ninguém dará crédito às suas próximas. É como estar aprisionado num permanente estado de suspeição, debatendo-se inutilmente na inescapável armadilha da culpa presumida. À espera de que um eventual – e improvável - futuro acerto diminua-lhe o débito.
Pessoalmente, porém, devo confessar (com humildade) que nas raras vezes em que não fui certeiro não foi a frustração da discórdia ou o receio do descrédito os sentimentos que prevaleceram no fundo de minh´alma. Não. A surpresa da rejeição alheia sempre despertou em mim um sentimento inesperado de propriedade. Como se a negação dos demais significasse tão somente que a obra eleita foi feita para mim e mais ninguém. Que há algo de meu nela e que é até bom que menos pessoas a conheçam e admirem. Mesmo porque, caro leitor, há algo nesse tipo de obra de consumo indigesto que nos expõe. E isso faz toda a diferença – para o prazer da experiência e o receio da exposição.
Aproveitando o clima de Oscar, fica a dica ao leitor: “O Discurso do Rei”, muito bom filme.