- - - - - - Texto enviado por Diogo Oliveira Santos - - - - - -
O tanque estava entupido.
Imaginei que seria um serviço fácil desrosquear o copo do sifão, tirar a
sujeira e colocá-lo de volta. Mas não foi. Primeiro, foi necessário afastar a
máquina de lavar e me sentar no chão frio e úmido, numa noite em que a
temperatura em São Paulo era de 14 graus. Em meio à sujeira típica desses
ambientes da residência, removi a parte de baixo do sifão para descobrir que o
entupimento se devia a uma enorme bola de cabelos, fios de roupas e materiais
gordurosos misturados. Retirei a bolota e joguei no lixo. Pronto, foi moleza.
Mas não foi. Coloquei de volta o copo no lugar, abri a torneira para testar e,
obviamente, vazou. Percebi que o anel de borracha que veda o bocal do copo no
sifão era vagabundo, mas eu não tinha outro pra colocar no lugar. Peguei então
um pouco de massa de calafetar (sabe Durepóxi? Igual, exceto pelo fato de que
não endurece nunca) e botei na conexão. Demandou um pouco de força para
rosquear, e com isso o cano do esgoto que entra na parede se moveu alguns
milímetros. Vazou imediatamente, e dessa vez muito. Não dava para salvar. Pedi
à esposa que comprasse um sifão novo, de plástico, e no dia seguinte estava lá
de volta. Muito frio de novo, dessa vez com o agravante da água que havia
vazado toda espalhada pelo chão. Em verificação inicial, o sistema me pareceu
todo mole. Seria fácil retirar o velho sifão de metal. Não foi. O cano do
esgoto apodreceu e não queria sair do seu alojamento na parede. Peguei um
alicate e comecei a retirá-lo aos pedaços. Imediatamente me veio uma
preocupação: eu ali, mexendo no esgoto, retirando pedaços de metal, poderia
machucar minha mão e correr o risco de uma infecção. Mas isso não ocorreria,
justamente pelo fato de eu estar consciente e tomando cuidado. Dois segundos
depois, o alicate escapou e um pedaço de metal arranhou minha mão esquerda, bem
na junta do dedo indicador com o resto da mão, saindo um pouco de sangue.
Continuei o serviço, como macho imune a bactérias, e terminei a retirada dos
destroços do cano velho. Peguei aquele sifão plástico novinho, cheiroso, furei
com os dentes a bisnaguinha de lubrificante que acompanhava a embalagem, passei
com os dedos na reta final do cano, enfiei na parede, e entrou fácil. Fiquei
feliz. Bastava, agora, rosquear a parte gordinha do sifão debaixo tanque. Mas
não deu. O espaço entre a coluna do tanque e a parede era exíguo, e a barriga
do sifão tentava ocupar o mesmo lugar do cano que entra na parede. Eu, molhado
de esgoto, com frio e a mão sangrando, por pouco não desisti. Mas, como homem,
levantei, troquei de roupa e me preparei em segundos para ir à Leroy Merlin
comprar um cano menor, que coubesse ali. Peguei a carteira e o celular e passei
na área de serviço para dar uma última olhada na bagunça, quando veio o estalo.
Não era necessário instalar a barriga do sifão! Bastava o cano flexível, que
com uma pequena curva para baixo faria com sucesso o papel de vedar a saída de
vapores fétidos e insetos nocivos pelo ralo do tanque. Voltei ao quarto, tirei
o tênis e as meias, coloquei a bermuda úmida de volta e em 5 minutos encerrei o
serviço. Aproveitei o ensejo para passar um pano e limpar toda a parte de trás
do tanque, que se Deus quiser vai ficar mais 10 anos sem ser acessada. O
serviço ficou bom e minha mão nem infeccionou. Duvido que um funcionário da
Porto Seguro fosse tão eficiente.
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