Saturday, November 19, 2005

He-man


“Esse é o cara!”. Deve ser mais ou menos essa a tradução de He-man, porque qualquer outra tentativa para o português soa muito estranha aos ouvidos e à gramática.
Dia desses, enquanto assistia Globo News, o controle escorregou acidentalmente e o canal foi parar no Cartoon Network (ali do lado, para quem não sabe) onde estava passando a nova versão animada de He-Man.
Quase nada mudou. Os vilões e os aliados do Reino de Eternia continuam os mesmos de sempre. Minto... duas coisas mudaram: o corte de cabelo estilo “cortina” do He-man agora está mais moderno (já não fazia sucesso nem entre as crianças da minha época) e muitos dos personagens tiveram seus nomes trocados para o inglês: Esqueleto virou “Skeletor”, e Mentor, “Man-at-arms” (!) ou coisa do gênero.
O príncipe Adam continua um fracasso aos olhos da corte, sempre fugindo na hora que o bicho pega. Também pudera... quando um herói tem duas identidades, pelo menos uma delas é necessariamente um fracasso. Por experiência própria, sabemos que dar conta de uma só personalidade já é difícil. Imagine então de duas, sendo que uma delas tem que ser heróica e a outra, pelo menos, não pode comprometer.
Outra coisa que permanece essencialmente igual é a transformação de He-Man. Quando Adam se transforma no protegido de Greyskull, o efeito daquele raio que o atinge assemelha-se ao de pegar no sono dentro de uma câmara de bronzeamento. He-man fica mais moreno, com a voz grossa e menos roupa. Já acorda se espreguiçando, a voz cavernosa... “Pelo poderes de Greyskull!! Que horas são? Dormi muito? Nossa, estou todo queimado... Eu tenho a forçaaaaa!!”O mais impressionante é que ninguém no Reino percebe as semelhanças entre Adam e He-man. Uma vez no Natal meu pai foi ao banheiro bem na hora que o Papai-Noel chegou. Não percebi nada na época. Mas ele estava de gorro, barba branca, barriga postiça... Se tivesse voltado mais moreno, falando grosso e com menos roupa, certamente eu teria percebido alguma coisa. Ficaria um pouco assustado, é verdade. Mas se o presente fosse bom, tudo bem.

Wednesday, November 09, 2005

Dos rodízios e buffets



All-you-can-eat. Tentador. Coma o máximo que conseguir, porque o preço é o mesmo. É por isso que as pessoas param de comer um dia antes quando sabem que vão a um restaurante desses. Querem fazer valer o investimento. O dono do restaurante, é claro, está ciente da situação. Ele tem medo que você coma demais e dê prejuízo. Você está lá para dar prejuízo.
Quando se sai para jantar, normalmente o que se quer é um ambiente agradável, com boa comida. Mas quando você pode comer o quanto quiser, o ambiente e a qualidade pouco importam. O que você quer é comer.
Rodízios de churrascarias são exemplos interessantes. As pessoas chegam pálidas, brancas de fome. E saem afrouxando as calças. “Comi demais, chega... foi bom que o garçom esqueceu da gente ali no final, senão teria comido o dobro”. Ele não esqueceu. Faz parte do script. No começo, eles procuram servir o máximo de carne possível. A idéia é que você coma rápido o suficiente para ter uma congestão sem ter ingerido muita comida. Aqueles cartõezinhos de sim/não, verde/vermelho não passam de ilusões de controle: experimente insistir no cartãozinho vermelho depois do primeiro prato de salada, ou deixá-lo no verde depois que o coração de frango passou pela terceira vez. Inútil.
Alguns restaurantes possuem o requinte de servir também a bebida à vontade por um preço fixo – o refil. Mas o efeito desse estratagema fica sujeito ao famoso paradoxo das conseqüências: os mais fracos podem se encher com o refrigerante e poupar as peças de picanha-nobre; já para os profissionais – que são os que importam - a bebida ajuda a cimentar e compactar o bolo alimentar, abrindo espaço para mais comida.
Nesses casos o melhor a fazer é parar de servir. Depois da bonança inicial, o ritmo vai caindo até o ponto que os garçons parecem ignorar completamente aquela seção. É como se a comida da casa estivesse contaminada por alguma doença contagiosa, e os fregueses precisassem ficar um tempo de quarentena antes de serem liberados para pagar a conta. Por isso que você nunca vê um garçom provando a carne escondido – eles nunca sabem dizer se a peça está bem ou mal passada. Cortam primeiro e vão botando no seu prato, sangrando... “bem passada pra você?”. Isso quando a pergunta não vem com aquele ar de desdém, como se comer carne vermelha fosse prova de virilidade. Quem ele quer enganar? Nenhum de nós dois caçou aquela vaca, e mesmo se fosse o caso não teria sido uma caçada das mais emocionantes. “A mocinha quer que passe um pouco mais?”.
O buffet all-you-can-eat diz muito sobre a classe e o requinte de um restaurante. Nos mais fuleiros, pagam-se as sobras. Por peça, no caso dos rodízios japoneses - e por peso mesmo, naqueles onde o almoço custa $4,90. “Onde você pensa que vai? Tem pelo menos umas 100 gramas aí nesse seu prato. Não gostou do gato? Azar o seu... Você me deve $0,50!”
Acredito que o rodízio que mais se aproxime do ideal é o de pizzas: dificilmente param de servir, e se você quiser pode deixar as bordas de lado que ninguém vai pesá-las. Tudo isso, creio, graças ao advento da pizza doce. Ela restabelece a ordem natural das coisas: Salgado – Doce – Rua. São sempre enjoativas, que é para garantir que ninguém vai voltar para os pedaços salgados. Reparem que antes dos rodízios de pizza não havia pizza doce (nada na vida é por acaso...)
Bom, agora chega que escrever dá fome. Ler mais ainda. Vai uma pizza de chocolate?