Certas situações aparentemente inofensivas podem funcionar como verdadeiras armadilhas sociais. Ocasiões em que não há convenções sobre como proceder - nem é tão simples aplicar o bom senso. Uma espécie de limbo onde qualquer atitude parecerá errada.
Você está dirigindo, rádio ligado, quando toca o telefone do passageiro. O que fazer? Ignorar a ligação e, desrespeitosamente, manter o volume do rádio nas alturas? Ou abaixar drasticamente e dar a entender que vai ficar bisbilhotando a conversa alheia?
Difícil. Either way you lose.
* * * * *
MPN IV
Da redação
Sem surpresas. Terminou em pizza a quarta edição do Marilena Poker Nights, a franquia de pôquer que mais cresce no Brasil. O torneio marcou o fim da Era Pimenta e o início da Era Scattolin - primeiro jogador a conquistar o bicampeonato no evento. "Fiz o meu melhor, lutei o quanto pude. É muito frustrante" declarou a vice-campeã. "Todos jogaram muito bem, e o nível desta edição esteve realmente alto. Em alguns momentos precisei jogar a 70% da minha capacidade para manter a liderança" afirmou o vencedor. "Eu sei que houve uma controvérsia a respeito do torneio anterior. Acho até que fui prejudicado. Desta vez, porém, não houve dúvidas", concluiu.
O MPN V ainda não tem data definida, mas a organização promete novidades. "Em breve definiremos a data e o local. O que posso adiantar é que o cacife será aumentado, e seremos mais rigorosos com a política do traje esporte fino" - finalizou Scattolin.
O que é um nerd, afinal?
Pergunto porque eles parecem estar
na moda - e isso faz alguns anos. Talvez cada um faça a sua própria ideia do
que o termo significa, mas existe um senso comum bem definido.
Experimente entrar em um site nerd, por exemplo. Qualquer um
deles, só por curiosidade.
Você vai ver que é tudo cultura pop: filmes, séries,
livros de fantasia e pitadas de tecnologia rasteira (videogames, celulares,
tablets).
Nada ali é sério.
Posso estar errado, mas quando tomei contato com o termo
pela primeira vez a ideia era outra. Tinha mais a ver com as notas na escola –
o que dava uma certa selecionada no grupo.
Agora virou várzea. Basta gostar de
entretenimento blockbluster e aplicativos para smartphones.
“Como um povo tão sem graça podia ser tão complexo?”
O primeiro post sobre a viagem ao Japão terminou com uma
pergunta e uma promessa de resposta - a qual ficarei devendo. Mas a culpa
não é minha: é do tal do relativismo. São culturas tão distintas que é
impossível fazer juízo de valor ou de comparação. O que dá para fazer são
observações. Um olhar brasileiro, se é que isso existe.
Confesso que fui até o Japão com essa ambição, a de
avaliá-los. E, confesso, fui a campo com a hipótese pronta: talvez
o estranhamento que o Japão nos causa fosse meramente linguístico – e isso era
algo que eu estava disposto a provar.
Explico. Não dá pra entender nada do que eles falam ou
escrevem, o que por si só causa um impacto considerável. Vou além: a pronúncia
soa estranho. A feminina é cadenciada e infantilizada, enquanto a masculina remete a broncas ou discussões. Imaginei que se abstraísse essas barreiras
superficiais e fingisse entendê-los, a essência que restaria seria algo, senão
próximo, ao menos familiar. Afinal, são seres humanos, não poderiam ser tão
diferentes.
A hipótese da redução do caso à questão linguística, porém, caiu
por terra logo nos primeiros dias, deixando-me órfão de explicações. Observando
as conversas da nossa Guia com os locais, ficou claro que a comunicação entre
eles obedecia uma lógica distinta. Informações simples demoravam para serem
obtidas em diálogos que arrastavam-se inexplicavelmente. Seriam prolixos ou
apenas raciocinavam em outros termos? Difícil saber, mas certamente havia uma
dificuldade para fazer-se entender. Americanos não gastariam mais do que duas ou
três frases curtas, quando muito.
Descartada a simplificação, era preciso começar de novo, sob
outra abordagem - mais complexa e desafiadora. O jeito era colher informações aleatoriamente, e torcer para
que elas se aglutinassem em torno de algum padrão inteligível de comportamento.
Escolhi deter-me, por um momento, sobre o aspecto não-verbal. O silêncio
entre eles dizia muito sobre discrição e o respeito que eles parecem valorizar.
É raro surpreender japoneses conversando em trânsito. Elevadores, ônibus, metrô.
Todos quietos. Próximo a um templo budista, assisti a parte de uma aula de
arco-e-flecha. Paciência e concentração ritualísticas. Entre uma flecha e
outra, longos minutos de instruções e contemplação. Não pude deixar de imaginar que,
fosse a aula no Brasil, os alunos teriam disparado dezenas de flechas antes mesmo da
chegada do professor.
Essas evidências, entre tantas outras, me eram úteis, mas
não ajudavam a responder sobre as aparentes contradições da sociedade japonesa.
O que eu via era linear, e corroborava apenas o aspecto da disciplina e da
passividade orientais. A face sem graça. Onde estava o lado criativo do
japonês? O lado lúdico Godzilla-Pokemón? O lado que consome programas e
propagandas bizarras na televisão.
Concluí, precariamente, que não havia inconsistência alguma.
Pelo contrário: existia uma conexão indissociável entre elas. O que me levou a
essa conclusão eu deixo para uma próxima oportunidade.
Taí uma frase que termina com qualquer reunião/discussão que
envolva números passíveis de serem inseridos em uma planilha eletrônica. É uma
espécie de frase-trunfo: quando em dúvida, basta apelar para as habilidades míticas do
Excel. Tiro e queda.
O que acontece é que as pessoas têm uma ideia de onipotência
quanto às possibilidades do programa. Embora 95% dos usuários utilizem apenas as 4 operações fundamentais, todo mundo já ouviu falar que ele serve
para tudo: Matemática Financeira, Estatística, Banco de Dados, Macros (que
diabo é isso?!)... Assim, duvidar do Excel é como assinar um atestado de ignorância,
mesmo quando você tem razão. “Blasfêmia, você não sabe mexer em Excel!”, alguém
dirá. “Vi um indiano fazendo isso na versão para celular”, dirá outro. “Soube
de um russo que dividiu por zero em uma célula!”. E por aí vai. Cheguei
à conclusão de que, se o cinema fosse mais realista, Neo enxergaria a Matrix em
um arquivo .xls ao invés daqueles números
verdes caindo em cascata.
É por isso que, quando o assunto surgir, o mais prudente a
fazer é concordar. Afinal, o ser humano só consegue utilizar 10% da capacidade do
seu cérebro. E #NULO! % da capacidade do Excel.
PS: Essa já é a minha segunda dica para uso exclusivo em reuniões enfadonhas. A primeira foi o "Salva na nuvem", em algum post perdido por aí.
O Japão é um lugar exótico. Aos olhos latino-ocidentais, ao
menos.
Quando digo que fui ao Japão, a primeira - e indignada - reação das
pessoas é "Pra ver o Corinthians!?". E a segunda quer saber da
primeira impressão. "Como é por lá? Deve ser muito diferente."
Pois bem. A primeira impressão, para ser preciso, é “Como
tem japonês nesse lugar!” Salta aos olhos. Ato contínuo, surge a sensação de ter virado analfabeto. Não se entende nada do que está escrito,
ou do que está sendo dito. Parece uma constatação óbvia. Boba. Mas as impressões seguintes, todas
elas, decorrem das duas primeiras.
Particularmente, a curiosidade que eu tinha sobre os
japoneses era descobrir se eles eram loucos mesmo ou se aquilo era preconceito
meu. Qual a deles, afinal? Porque o que nos chega de lá é algo contraditório.
Um povo disciplinado e trabalhador, mas que é dado a esquisitices
incompreensíveis mesmo para um brasileiro. Um comportamento misterioso, enfim.
O que eu esperava era decifrar um pouco daquele mistério. Pelo menos até onde fosse
possível em apenas 10 dias, dois deles de Corinthians.
Como um povo tão sem graça podia
ser tão complexo?