Monday, October 01, 2012

Segunda Mão - O que vem de cima



 Texto enviado por Diogo Oliveira Santos 



    Moro em um apartamento. E, como ocorre com todos os apartamentos que não ficam no último andar, ouço claramente os ruídos vindos de cima. Tenho a impressão que a família que mora lá tem uma vida social intramuros muito mais agitada que a minha, considerando a frequência e duração dos ruídos. Eles provavelmente não têm sofá ou cadeiras, o que os obriga a ficar em pé o dia todo, andando de um lado para o outro para não provocar varizes nas pernas. Mas, como passo o dia fora de casa, é à noite que a situação me chama a atenção. Ambas as famílias vão dormir aproximadamente no mesmo horário, o que me permite acompanhar os preparativos vindos de cima.
    Sinceramente, não consigo entender que situações poderiam produzir tanto barulho. O som não é de passos com salto alto ou sapato de sola dura, por exemplo. É de coisa caindo no chão. E coisa dura. É como se, todo dia antes de dormir, os objetos do quarto fossem atirados ao chão, num ritual. Enquanto não durmo, fico imaginando que objetos e materiais poderiam produzir tal ruído. Alguns que já me vieram à mente: estátua de santo de madeira; cinzeiro de metal; celular Motorola PT-500; paralelepípedo. Num exercício que sempre acaba me tirando o sono, vou testando as hipóteses: não pode ser santo de madeira, pois são evangélicos; cinzeiro também é difícil, pelo mesmo motivo, embora não haja regra nesse sentido; o PT-500, bom, acho que nem funciona mais nas redes atuais de telefonia. Portanto sobrou só o paralelepípedo.
    Morar em prédio é um exercício de cidadania e paciência, já que as pessoas são empilhadas umas sobre as outras. Talvez eu produza ruídos que meu vizinho de baixo ouve e eu nem sei. Dada a má qualidade das lajes das construções mais novas, muito finas, talvez meus vizinhos de cima tenham um comportamento que até evite barulhos, Mas que acabam ocorrendo de qualquer maneira. Por isso um pouco de tolerância é bom. Aqueles minutos antes de pegar no sono são o momento ideal para analisar os padrões e tentar descobrir se o incômodo é causado sem querer ou por má-fé.



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