Texto enviado por Diogo Oliveira Santos
Moro em um
apartamento. E, como ocorre com todos os apartamentos que não ficam no último
andar, ouço claramente os ruídos vindos de cima. Tenho a impressão que a família
que mora lá tem uma vida social intramuros muito mais agitada que a minha,
considerando a frequência e duração dos ruídos. Eles provavelmente não têm sofá
ou cadeiras, o que os obriga a ficar em pé o dia todo, andando de um lado para
o outro para não provocar varizes nas pernas. Mas, como passo o dia fora de
casa, é à noite que a situação me chama a atenção. Ambas as famílias vão dormir
aproximadamente no mesmo horário, o que me permite acompanhar os preparativos
vindos de cima.
Sinceramente,
não consigo entender que situações poderiam produzir tanto barulho. O som não é
de passos com salto alto ou sapato de sola dura, por exemplo. É de coisa caindo
no chão. E coisa dura. É como se, todo dia antes de dormir, os objetos do
quarto fossem atirados ao chão, num ritual. Enquanto não durmo, fico imaginando
que objetos e materiais poderiam produzir tal ruído. Alguns que já me vieram à
mente: estátua de santo de madeira; cinzeiro de metal; celular Motorola PT-500;
paralelepípedo. Num exercício que sempre acaba me tirando o sono, vou testando
as hipóteses: não pode ser santo de madeira, pois são evangélicos; cinzeiro
também é difícil, pelo mesmo motivo, embora não haja regra nesse sentido; o
PT-500, bom, acho que nem funciona mais nas redes atuais de telefonia. Portanto
sobrou só o paralelepípedo.
Morar em prédio
é um exercício de cidadania e paciência, já que as pessoas são empilhadas umas
sobre as outras. Talvez eu produza ruídos que meu vizinho de baixo ouve e eu
nem sei. Dada a má qualidade das lajes das construções mais novas, muito finas,
talvez meus vizinhos de cima tenham um comportamento que até evite barulhos,
Mas que acabam ocorrendo de qualquer maneira. Por isso um pouco de tolerância é
bom. Aqueles minutos antes de pegar no sono são o momento ideal para analisar
os padrões e tentar descobrir se o incômodo é causado sem querer ou por má-fé.
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