No dia
dos professores, segue uma história da época da GV. Grande escola. Deu trabalho
para me formar, mas a verdade é que guardo boas recordações daquela merda.
Dentre tantos mestres ilustres, escolhi um pouco conhecido: o Pinto, de Matemática-III.
Quem estudou por lá haverá de dizer: “Pera lá, essa matéria não existe no
curso”. Sim, existe. Pode chegar até Mat-IV, inclusive. Se você não sabe é
porque não bombou em Mat-II.
O Pinto
era um sujeito alto e troncudo. Tinha mãos tão grandes que faziam um giz normal
parecer grafite de lapiseira. Era engraçado como ele segurava aquele pedaço de
giz com todo cuidado para não esmaga-lo acidentalmente. Aliás, taí um professor
que sabia ser duro: suas provas eram difíceis e trabalhosas. Mas apesar do
terror que impunha à sala (taxa de reprovação beirando os 40%), era boa pessoa.
Bonachão, eu diria. Só ficava nervoso com o entra-e-sai dos alunos. Certa vez,
fora de si, tentou equilibar uma cadeira entre o chão e a maçaneta da porta,
como nos filmes de interrogatório, para impedir o retorno dos egressos. Não
funcionou. Só dá certo no cinema. A cadeira caiu, a classe riu... Enfim,
trágico.
Quanto às
aulas, tenho pouco a dizer. Como um bom jumento em Geometria Analítica, eu me
contentava em observar enquanto de uma equação na lousa ele fazia surgir um guarda-chuva.
Uma rápida manipulação nas variáveis e o guarda-chuva abria e fechava, pingando
gotas d’água no eixo “z”. Fascinante.
O que mais
me marcou, no entanto, foi uma passagem de final de semestre. Terminada a aula,
precisando de nota, persegui o Pinto pelo corredor do quinto andar, o do
Rockafé. Queria uma revisão de prova. Tarefa ingrata, o Pinto costumava ser
irredutível.
Impaciente,
mas sem perder o bom humor, o professor entrou no elevador lotado e apertou o
botão do IMQ (“Informática e Métodos Quantitativos”), departamento hostil de
onde aluno algum retorna com vida. Recuei. Do corredor, apenas observei enquanto ele estendeu o braço na minha direção e profetizou, alto:
“Francisco,
alea jacta est!”.
E a cortina
a porta do elevador se fechou na minha frente após ele terminar a frase.
Dramático...
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