Tuesday, December 04, 2012

Sobre o prazer de falar "Corinthians"






- - - - Texto enviado por Álvaro Leite Domingos - - - - 


    Futebol é o assunto do qual mais gosto de conversar. Com parentes, amigos, colegas, conhecidos e desconhecidos.

    Não estou sozinho nessa preferência, claro. O futebol serve como um coringa em nosso dia-a-dia. É o gancho perfeito para se puxar papo com alguém. Torna a conversa leve, descontraída. É difícil ser antipático com alguém que também goste do assunto.

   Claro que existem algumas diferenças no modo como o tema é tratado durante a conversa. A diferença principal é o time que cada um torce.

    Com torcedores de outros times, o papo invariavelmente se direciona para grandes craques, times imbatíveis e títulos inesquecíveis. É uma conversa mais objetiva, cheia de números e datas históricas.
   
    Num encontro entre corinthianos, naturalmente, a dinâmica é totalmente outra. O Corinthians é um time subjetivo. É onde a velha máxima de que o futebol não é ciência exata encontra o seu melhor modelo. O Corinthians é o exemplo clássico de objeto cuja definição depende unicamente do ponto de vista de seu observador. No caso, a torcida.

    Juca Kfouri cunhou a expressão: “O Corinthians não é um time com uma torcida, mas uma torcida que tem um time”. Um axioma para corinthianos e um paradoxo para os rivais. A síntese perfeita dessa relação quase neurótica entre duas partes que se complementam.

    Ser corinthiano é ver aquela camisa (preta e/ou branca) com um emblema estranho, parecendo um despertador, e ficar com vontade de torcer. Torcer. Pra quê? Não importa. O lance é torcer. Sempre. Vai, Corinthians. Sem restrições ou moderação.

    E daí que os jogadores do Corinthians passam a ser muito mais personagens que atletas. Todos pitorescos, densos, controversos, como deve ser. Assim surgem as boas histórias.

    É o Dr. Sócrates, que transformou a pelada dominical entre as aulas de medicina em estilo de vida e instrumento político. É o garoto Viola, negro, saído do terrão, que faz gol numa final em pleno 13 de maio. 

    É o chutaço do Célio Silva a 120 kh/h. E do Gralak a 130! É a dupla sertaneja Tupazinho e Fabinho, com seus mullets esvoaçantes e fazendo gol de carrinho. São as bicicletas do Neto pelo e contra o Guarani. Além do gol de falta do mesmo Neto do meio do Maracanã.

    É Marcelinho jogando o uniforme pra torcida depois de um empate contra o maior rival até ficar só com a roupa de baixo. É o golaço do Elivelton na prorrogação. O Dida pegando 2 pênaltis seguidos. E os comedidos Ricardinho, Parreira e William batendo no peito pra gritar “Timão Ê-Ô!”

    É Paulinho subindo no alambrado. E o Fenômeno derrubando o alambrado. Para depois construir uma cobertura na Vila Belmiro.

    É a história triste do Ezequiel. A tragicomédia do Dinei. E os causos engraçadíssimos do Gilmar Fubá. Mais as entrevistas afiadas do Vampeta. Os gritos do Ronaldo, batendo as luvas pra botar ordem na zaga. O sotaque engraçado do Giba. E o portunhol incompreensível de Carlitos Tevez.

    É o craque Casagrande sendo trazido de volta pelos gritos da arquibancada do Pacaembu. E o craque Biro-Biro comprovando que foi melhor que Maradona graças à militância corinthiana na internet.
É a classe do Gamarra. A raça do Henrique. As mordidas do Chicão. A superação do Jacenir. A polivalência do grande e subestimado Wilson Mano. E a mão esquerda do Cássio naqueles 6 segundos mais longos da história.

  É o tiro de espingarda de Rincón no Olímpico. Os chutes de capoeira recheados de ironia do Fernando Baiano. O capetinha Edílson enfileirando e passando a bola por debaixo das pernas da zaga do Real Madrid. Culminando com a mordida de Emerson Sheik no dedo do defensor do Boca Jrs.

   Acho que já me fiz entender. Ser corinthiano, mais que sonhar por títulos, é gostar de histórias. E compartilhar essas histórias. Destacando o valor afetivo de cada uma delas. Sendo assim, escalo o Corinthians que vem me acompanhando nesses últimos 32 anos.



Esquema: 3-4-3

Gol: Ronaldo

Zaga: Chicão, Gamarra e Gralak

Meio-Campo: Gilmar Fubá, Vampeta, Neto e Marcelinho

Ataque: Dinei, Casagrande e Tupãzinho


Autor: Álvaro, um desqualificado pouco adaptado à vida moderna. Conheça suas neuroses em  http://quemsabedia.blogspot.com.br/



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5 comments:

  1. Gol: Ronaldo
    Lateral direito: Zé Maria
    Zaga: Gamarra e Marcelo
    Lateral esquerdo: Silvinho
    Meio: Rivelino, Neto, Marcelinho e Biro-Biro
    Ataque: Ronaldo e Sócrates

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  2. This comment has been removed by the author.

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  3. Faltou escalar mais um cara mítico:

    NARRADOR: Silvio Luiz

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  4. E o técnico. Tite!

    Belo all-time. Mas Biro-Biro tá de brinks...rs

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