Sunday, December 05, 2010

Sem palavras


Certa vez comecei um conto de Natal, que ficou inacabado. Lembrei dele neste fim de ano e resolvi que era hora de terminá-lo. Não era especialmente bom, mas, para quem não sabe, a segunda visita a um texto antigo faz milagres. Sem contar que o prazer da edição é, para mim, muito mais saboroso que o da própria criação - que é sempre um tanto sofrida. Qual não foi a minha surpresa quando não encontrei a história em lugar algum. Nenhum dos computadores que usei nos últimos anos: o velho note CCE, o desktop de casa, o Macbook. Nada.
Considerei, por um breve momento, recomeçá-lo. Logo desisti. Um texto nunca sai igual, não importa que seja escrito pela mesma pessoa, que parta das mesmas premissas ou que conte a mesma história. Pode ficar parecido, mas mesmo essa garantia é frágil.  E se vai sair melhor ou pior, nunca se sabe. Especialmente porque a escolha das palavras nunca é a mesma. Depende do humor, da inspiração e de uma série de mecanismos desconhecidos que operam quando se vasculham as profundezas do subconsciente à procura da construção perfeita. Porque quando a gente vai pescar palavras nunca sabe qual vai morder a isca. Às vezes vêm umas bem xexelentas. Aquelas que a gente pega, olha e devolve. Mas vez por outra vem à tona uma palavra dourada. Ela chega se debatendo toda, dá trabalho. Mas se encaixa como se tivesse nascido para exibir-se naquela sentença. E é esse o segundo melhor momento de um escritor.
De qualquer forma, é melhor eu esquecer o tal conto. Hoje o mar não está para peixe.

5 comments:

  1. Informo que a partir deste post a administração do blog deliberou por adotar o sistema de produção puxada. Cada 5 comentários disparam a próxima postagem no momento t+1, salvo disposição em contrário do Administrador.

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  2. ô Loco, meu! Gestão por resultados saindo do mundo corporativo e chegando aos blogs!

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  3. Incrível como vc sempre pesca as palavras certas

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