Friday, August 27, 2010

SP Underground II


Andar de metrô causa perda momentânea da personalidade. Deveria haver um aviso na entrada prevenindo os passageiros deste mal súbito. Hoje, por exemplo, um vagão passou batido pela plataforma e parou logo na saída do túnel. Andou mais um pouco pra frente e, logo em seguida, retornou de marcha-ré.
O curioso disso tudo não é exatamente o movimento do trem, mas a reação das pessoas - antes, ainda, a falta dela. Ninguém comenta que o trem errou, ninguém lamenta, ninguém se surpreende.
Outro dia o trem ficou parado por 10 minutos na estação, cheirando queimado, as portas abertas. Os funcionários andavam pra lá e pra cá, tentando descobrir a falha. Quase ninguém deixou o vagão, fizeram cara de paisagem. Quando o trem fica parado no meio do túnel, idem: indiferença total. Nem a falta de oxigênio em um ambiente claustrofóbico é suficiente para que se fale alguma coisa. Fico imaginando qual o nível de tolerância dessas pessoas. Será que depois de uma hora parados comentariam entre si que o trem parou? Nessas ocasiões, sinto-me no filme Resident Evil. Os zumbis do cinema são agressivos apenas contra os seres humanos. Quando entre eles comportam-se mais ou menos como num desembarque na estação da Sé: autômatos, olhar perdido, vagando em manada.
Parece que nada é realmente capaz de perturbar um usuário do metrô. Dizem que certa vez, na década de 80, um Alien cruzou velozmente toda a extensão do túnel, perseguido por um Predador. Ninguém se incomodou nas plataformas.

4 comments:

  1. Por mais rígida que seja uma lei, pode se tornar letra-morta quando há mobilização. Infelizmente, a cultura do medo foi e é disseminada na sociedade brasileira desde a educação infantil.

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  2. Nos trens da CPTM o pessoal é bastante mais belicoso

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