De dentro
de casa, ou no escritório, fica difícil adivinhar o clima lá fora. Geralmente
eu dou aquela olhadela básica pela janela antes de sair. Mas às vezes esqueço.
Hoje fui
salvo pela Josefa quando saía do Marilena trajando apenas uma camisa pólo: “Está
fazendo 12 graus lá fora! Sensação térmica de -8. Melhor colocar um casaco. E se for demorar, não esqueça o
guarda-chuva. A massa de ar frio traz pancadas de chuva ocasionais no final da
tarde ou começo da noite. Tempo louco, não?”.
Liguei hoje no escritório da Biblioteca Nacional.
Obra recebida e sob análise! Prazo para a conclusão: 90 dias.
Lá pelo dia 5 de dezembro fica pronto e eu posto o primeiro capítulo no grupo do Facebook.
Matei. E perdi a conta de quantos foram. Certamente passou da dezena.
Deu para sentir o cheiro dos pequenos corpos carbonizados exalando a partir da cadeira elétrica.
Digo, da raquete elétrica.
São Paulo talvez
seja a capital mundial dos flanelinhas. Em Nova Iorque, a prática não existe.
Eu não vi, pelo menos. Parte da razão deve ser porque em Manhattan quase não há
vaga para estacionar. Existem alguns edifícios-garagem, é verdade – mas o
grosso do tráfego é de táxis, e eles parecem nunca parar de circular.
Os
flanelinhas paulistanos incomodam porque a gente se sente coagido. Coagido e
extorquido. Que eles não existam em NY deve proporcionar, portanto, uma
sensação perene de paz e tranquilidade. O nirvana, certo? Errado. Existe por lá
algo pior: a ditadura da gorjeta.
Experimente
esquecer a “tip” do carregador, taxista, garçom, entregador, etc.
Eles só não
te riscam o carro porque você está a pé. E a cobrança é ostensiva: o carregador
de malas não sai do seu quarto por menos de “5 real”. O garçom traz a conta de
volta e aponta a taxa de serviço. “É 15%, maluco! Tá me tirando? A casa vai
cair, brother”.
Pessoalmente,
eu prefiro ser extorquido por um flanelinha - em um ambiente externo àquele
onde estou me divertindo - do que no estabelecimento onde já estou gastando uma
grana presumindo ser bem servido.
No vídeo, George
Costanza (da série Seinfeld) fazendo
questão de receber o crédito pela gorjeta.
A primeira
vez que eu estive nos EUA foi em um longínquo 1994, aos 11 anos. Lembro que
voltamos de lá com um “kit multimídia” para computador. Vinha com uns 15 CDs,
entre eles o da enciclopédia Encarta. Como ainda não havia Google (nem internet...),
era possível copiar os trabalhos de escola da Encarta sem levantar suspeitas.
Bons tempos. Provavelmente
o tal kit também houvesse para vender aqui no Brasil, mas a diferença de preço
era considerável.
Aliás, a
diferença em quase tudo, em termos de tecnologia, era considerável. Aparelhos
celulares, carros, utensílios domésticos... Visitar o “Primeiro Mundo” era uma espécie
de breve viagem no tempo rumo a um futuro próximo.
Essa
introdução toda foi para apresentar a origem da minha decepção com a Internet
em NY. A viagem da semana passada foi a primeira que eu fiz levando daqui um
smartphone (tecnologia que aderi há cerca de um mês). A minha ingênua
expectativa era que, na capital do mundo, internet rápida e grátis haveria em
qualquer boteco. Não havia! E mesmo as raras redes gratuitas, como a do US
Open, eram lentas e instáveis. Até o hotel onde eu me hospedei cobrava (e caro)
pelo acesso. Em suma: a situação da internet em Nova Iorque é praticamente a mesma de São
Paulo.
Aliás, a
tecnologia por lá, em quase tudo, equipara-se à brasileira. Aparelhos
celulares, carros, utensílios domésticos... Visitar o “Primeiro Mundo”, hoje, é
como ir ao interior. Bom tempo.
No vídeo, um teaser do primeiro "De Volta para o Futuro".
Não estou,
definitivamente, entre os que fazem uso pejorativo do termo “capitalista” para
descrever o comportamento do povo americano. Capitalistas também somos, não? Condená-los
por isso seria ignorar que o relativismo é uma via de mão dupla: a repulsa à
imposição do american way of life
mundo afora não invalida o seu direito de existir em solo yankee.
Relativismos
à parte, alguns aspectos do capitalismo norteamericano de fato causam
estranheza a outros povos a ponto de adquirirem ares de disfunção. É como se a
ótica do show e do lucro invadisse searas que lhes deveriam ser estranhas.
Em duas
Igrejas que visitei (St. Patrick e Trinity) havia lojas de souvenirs no
interior do templo, disputando espaço com os fieis. Outro exemplo, esportivo: durante o jogo de baseball
do New York Mets, os espectadores pareciam muito mais interessados em comer e se
divertir nas atrações do CitiField (uma arena para 42 mil pessoas que custou
quase o dobro do previsto para o Itaquerão) do que em torcer pelo time - algo
impensável durante um jogo do Corinthians.
Para não mencionar
as convenções políticas na tv – um verdadeiro circo...
Em suma, os
EUA são, mesmo, o país do show business. Quem poderá culpá-los?
No vídeo,
um ícone novaiorquino: o magnata e showman Donald Trump.
O sucesso
de um ato terrorista não se mede pelo número de mortos, ou pelo espetacular da
ação. Esses são os atributos da guerra convencional. O terror é covarde porque
essencialmente psicológico – e o que pode ser mais assustador do que a mente
humana?
Estive em
NY na semana do 11 de setembro, e a memória do atentado às torres gêmeas era
cultivada à exaustão nos noticiários e eventos esportivos. A memória, apenas –
porque não se nota medo ou receio. Mesmo os procedimentos de segurança, seja no US
Open ou no Empire State Building, parecem surpreendentemente relaxados. Nada de
cães farejadores, revistas ostensivas ou scanners sofisticados.
Onze anos
depois, a vida segue normal e o americano, de alguma forma, conseguiu
transmutar o pânico em orgulho – e o orgulho em show. Admirável.
No vídeo, a
paranoica “Somebody's watching me” (Rockwell e Michael Jackson), de 1984. Nada mais americano que Michael Jackson...
Eles fazem
esforço para vir e chegam sem convite – o que não quer dizer que não sejam
bem-vindos.
A ótica dos
anfitriões é a da exploração: mão de obra barata e redução de custos.
A dos
imigrantes é a da humilhação remunerada. Pelos mais diversos motivos, resolvem desertar dos seus países para sujeitar-se ao racismo e ao preconceito em terras
estrangeiras.
Benefício mútuo? Talvez. Mas o fato é que, vendo de perto e guardando distância, é difícil sentir simpatia por qualquer dos lados.
Dizem que serve
para organizar e catalogar o conteúdo produzido nas redes sociais.
#definiçãodehashtag
Não
demorou, porém, para que a incorporassem como parte da própria mensagem. Um
artifício para exprimir uma ideia sem precisar aventurar-se na sintaxe.
#preguiça #muleta
Existem,
ainda, os que se aproveitam das hashtags para pegar carona nos trending topics.
#oportunismo #vaicorinthians #calabocagalvao
Passei a segunda metade de 2008, e 2009 quase inteiro,
estudando em casa. Profissão: concurseiro. Período: integral.
Exige disciplina, obstinação e controle. Devolve em troca –
o que não é pouco! - uma sensação de aparente simplicidade a respeito de quase tudo
o que nos cerca. A ilusão de que apenas ao concurseiro foi confidenciado o
sentido da vida – estudar!
Eu me lembro de um dia específico. Um dia que parecia – e foi
- comum como todos os outros. Exceto por um instante quando, pela manhã, me
detive por um momento antes de retornar aos livros. Parei, sentei no sofá e vaticinei
que um dia sentiria saudades daquele sacrifício todo. Que quando concluísse o
meu objetivo e fosse alçado de volta à complexidade da vida eu daria por falta daquele
simulacro de existência tão meritocrático e cheio de certezas. Esse dia, porém
– e para a minha sorte -, nunca chegou. Curioso como o estudo em excesso aliena
o espírito e atrofia a mente...