Sempre enxerguei o tênis como metáfora da vida, e talvez venha daí minha fascinação pelo esporte. As nuances técnicas e táticas do jogo, imperceptíveis ao leigo, só se comparam ao opressivo desafio psicológico que é um torneio de tênis. Um contra um, você e o adversário. Ninguém para culpar pelo fracasso; ninguém para dividir a glória. O esporte é o elogio do mérito levado ao extremo, e as modalidades individuais sua expressão máxima.
Mas, enfim, não quero me deter demasiado na descrição do tênis. Esta semana acompanhei dois dias de jogos da Copa Petrobras, no clube Harmonia, em São Paulo. Durante as disputas, e em meio à torcida na arquibancada, um golpe do jogo me chamou a atenção de um modo inusitado, que suscita paralelos com inúmeras situações da vida. O golpe é a deixadinha, ou drop shot. Um movimento ousado em que o tenista, ao invés de aplicar sua força máxima no golpe, apenas bloqueia a bola com a raquete e a faz cair mansa do lado da quadra do adversário. Pertinho da rede. Bem lenta. Hu-mi-lhan-te-men-te lenta. O golpe parece difcíl e arriscado – e é, na maior parte das vezes. O que chama atenção numa jogada dessas é a reação da plateia. A deixadinha, quando bem executada, surpreende. Admira. Vai-se ao delírio, exaltando o talento e a audácia do jogador. O erro, porém, invariavelmente é percebido na medida oposta. “Não era a hora!”. “Que burrice, era só empurrar na paralela”. “Pra que inventar? Quer fazer o que não sabe”. Fugir ao senso comum é arriscar-se em dobro, porque não há condescendência com quem escolhe ousar. Procurar destacar-se é estar pronto a pagar o preço pelo eventual fracasso. A mediocridade nutre uma estranha predileção por ser sociável. A genialidade, um providencial descrédito pela opinião alheia.
PS: para quem se interessar pelo assunto, recomendo o Blog do Paulo Cleto. Em especial este texto, da final do Aberto da Austrália 2009, que é primoroso.
http://colunistas.ig.com.br/paulocleto/2009/02/01/hoje-e-amanha/